O Código Florestal prevê que as propriedades privadas existentes no bioma mantenham pelo menos 20% de sua área com mata nativa - a chamada reserva legal. Mas, pelos cálculos da CI, mesmo que todos os proprietários rurais cumpram a regra, preservar somente esses trechos não será suficiente para proteger as espécies.
Segundo os autores do trabalho, a área total protegida no cerrado precisa aumentar, seja com reservas públicas ou privadas, para que as espécies tenham espaço para se desenvolver. "Faz dois anos que não é criada nenhuma unidade de conservação no cerrado. Só 2,7% de seu território é protegido por áreas de proteção integral. Se isso não aumentar, não dá para falar em conservação", afirma Mario Barroso, gerente do programa Cerrado Pantanal da CI e um dos autores do estudo.
O pesquisador alerta que, se sobrarem somente os 20% das reservas legais, pode ocorrer um evento semelhante ao observado na Mata Atlântica, em que a fragmentação da floresta dificulta, entre outras coisas, a ocorrência de animais de grande porte e a polinização.
O cerrado é uma das savanas mais ricas do mundo - estima-se que a região compreenda cerca de 5% de toda a biodiversidade do planeta. E boa parte dessas espécies desempenha um importante papel na manutenção do clima, na proteção dos solos, dos rios e de suas nascentes e na polinização.
Segundo Barroso, as espécies de distribuição mais restrita ou endêmicas (exclusivas de um local) estão entre as mais vulneráveis. Só entre os vertebrados, cerca de 340 animais estão nessas condições.
Um exemplo dessa relação entre desmatamento e riscos à biodiversidade pode ser observado na lista de espécies ameaçadas de extinção do Estado de São Paulo. Entre as mais comprometidas estão aquelas que dependiam dos campos cerrados e perderam seu hábitat com a devastação dessas áreas nos últimos anos.
Expansão agrícola - De acordo com o pesquisador, a maior ameaça ao bioma é hoje conseqüência da expansão da cana-de-açúcar por áreas onde antes se plantava soja e milho. Essas culturas agora estão subindo em direção ao Piauí, Maranhão, Tocantins e oeste da Bahia, justamente onde estão os remanescentes do Cerrado.
Segundo cálculos da CI com a Universidade Federal de Goiás, desde a década de 1970, foram destruídos de 40% a 45% do bioma. "A gente entende a vocação do Cerrado para o agronegócio. Sabemos que é estratégico para o País, mas seu crescimento precisa garantir que as fontes de água e que a biodiversidade e seus processos ecológicos sejam mantidos", diz Barroso. (Fonte: Giovana Girardi/ Estadão Online)
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